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RETOMADA DA OFICINA DE MARCENARIA É DESTAQUE NO COTIDIANO DOS PACIENTES NO CAPS AD

22 de novembro de 2022 | 0 Comentários

A oficina de marcenaria tem sido destaque nas manhãs e tardes daqueles que passam pelo Caps Ad, em Ubá. Os pacientes retomaram a todo vapor as atividades junto da oficina de marcenaria que tem mobilizado os usuários do serviço e despertado a curiosidade daqueles que por ali passam. Seja aguardando uma consulta ou então fazendo alguma outra atividade dentro da unidade, de longe se pode ouvir o som emitido pelas máquinas durante a atividade e identificar que algo ali está sendo criado, produzido.

Ubá comporta o maior polo moveleiro do estado, associado a isso boa parte dos pacientes do Caps Ad tem interesse na marcenaria e/ou já trabalharam nesta área em algum momento de suas vidas. Poder retomar tal atividade traz rememorações a eles de tempos em que se sentiam produtivos em razão do trabalho que faziam. É muito comum escutar falas como “eu já fiz cadeiras assim”, “na fábrica em que eu trabalhava nos fazíamos muitas peças”, “é bom trabalhar com madeira de novo, é o que eu sabia fazer”. Essas e outras falas se fazem muito presentes no dia a dia dos pacientes.

A oficina de marcenaria acontece com doações de madeiras que recebemos e que os pacientes fazem belas artes e lindos móveis. Trabalhar com madeira não é fácil, ela ensina muito.  Ela é um material que resiste àquele que lida com ela – umas são mais moles, outras mais duras –, mas sempre resiste às mudanças que buscamos lhe impor. Não se consegue produzir um móvel ou então algum artesanato de uma vez só, sempre fica um resto, sempre algo inacabado. O fato de deixar algo inacabado faz com que a semana tenha dias, horas, minutos, tempo para esperar, elaborar, idealizar a próxima etapa, até chegar o próximo dia para que se possa dar continuidade ao inacabado, colocar mais peças sobre aquelas já organizadas e ir montando o quebra-cabeça do projetado. Isso traz um ensinamento para a vida, quando algo fica inacabado poderá ser sempre retomado no dia seguinte, basta planejar, esperar e ir montando o quebra cabeça.

Através do trabalho com a oficina de marcenaria é possível observar a maneira pela qual ela se inscreve como uma estratégia terapêutica de repercussão muito interessante, pois além de resgatar em cada usuário a noção de que ainda é possível retomar habilidades abandonadas, ela traz em si a possibilidade a sensação de novamente ser produtivo, de ser saudável. A noção de trabalho ultrapassa a monetização por ele proporcionada, antes tal noção é ressignificada nos nossos tempos. O trabalho é encoberto por uma áurea de valorização, ele se torna uma virtude que se opõe ao vício do ócio. Trabalhar se tornou um parâmetro de sanidade mental e física: é saudável aquele que trabalha. Aqueles que por algum motivo estão fora do mercado de trabalho são postos no grupo de marginais ou desviantes que necessitam ser reparados, assim como uma máquina quebrada, para poderem voltar ao mercado de trabalho.               

Vale destacar que não nos interessa enviesar as oficinas terapêuticas apenas como um trabalho a ser executado de maneira mecânica ou então como uma oficina que seja terapêutica que não tenha uma produção que permitirá ao usuário ser valorizado por seus pares pela produção que ainda é capaz de produzir. O objetivo principal de oficinas como essa é constituírem-se um instrumento de uma clínica ampliada favorecendo a reinserção social das pessoas em sofrimento mental. Para tanto se faz necessário problematizar à questão da reinserção social, que por vezes é reduzida a apenas atividades realizadas dentro das unidades de saúde sem que haja uma produção efetiva ou então pensar esse movimento como uma adaptação a uma realidade dada, uma realidade já dominante na sociedade e que não se procura modificar. A reinserção social deve-se fundamentar na autonomia e valorização do sujeito frente aos seus pares.

Confira algumas fotos da oficina de marcenaria:

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